Uma Taxonomia, no contexto de finanças sustentáveis, conforme definição da International Capital Market Association (ICMA), é um sistema de classificação que identifica atividades, ativos e/ou categorias de projetos que cumprem os principais objetivos climáticos, ecológicos, sociais ou sustentáveis com referência a limites e/ou metas identificados. Seu objetivo é promover investimentos em projetos e atividades voltados à transição ambiental, social e climática da economia e do planeta. Para além da classificação, ela serve como um catalisador para a integração da sustentabilidade nas práticas econômicas, desempenhando um papel crucial na transição para uma economia mais sustentável e resiliente.
Pilares de uma Taxonomia Sustentável
De modo geral, as taxonomias envolvem compromissos climáticos de mitigação e adaptação às mudanças climáticas, porém, também são encontrados diferentes temas de abordagem, como proteção de ecossistemas e biodiversidade, economia circular, prevenção e controle da poluição/contaminação, gestão e uso da água e uso do solo. Os países ou diferentes jurisdições fazem a escolha das abordagens que são mais relevantes para seus contextos locais.
No caso da Taxonomia da União Europeia, uma das primeiras a serem implementadas, ela tem como seis objetivos ambientais essenciais:
- Mitigação das mudanças climáticas: Redução de emissões de gases de efeito estufa.
- Adaptação às mudanças climáticas: Resposta e preparação para os impactos das mudanças climáticas.
- Proteção da biodiversidade e ecossistemas: Preservação e promoção da diversidade biológica e saúde dos ecossistemas.
- Uso sustentável do solo: Gestão responsável e conservação dos recursos terrestres.
- Uso sustentável e proteção dos recursos hídricos e ecossistemas marinhos: Conservação e gestão eficaz dos ecossistemas aquáticos.
- Transição para uma economia circular: Fomento a práticas que reduzem o desperdício e promovem a reutilização de recursos.
A Integração com a Economia Global: Direcionando Investimentos Sustentáveis
Uma Taxonomia Sustentável desempenha um papel crucial na economia, fornecendo um quadro padronizado para identificar e priorizar investimentos em atividades econômicas sustentáveis. A transição para uma economia de baixo carbono e circular não apenas abre novas oportunidades de emprego e impulsiona a inovação, mas também aumenta a competitividade das empresas em mercados globais cada vez mais conscientes em relação à sustentabilidade.
A implementação de uma taxonomia traz as seguintes vantagens:
- Permite a empresas, financiadores, investidores, governos e reguladores uma orientação em relação ao direcionamento de fluxos de capital a investimentos sustentáveis.
- Possibilita a orientação de políticas públicas alinhadas com uma trajetória de neutralidade de carbono e/ou outros objetivos ambientais, sociais e climáticos.
- Forma uma base para padronização de produtos financeiros e reporte, protegendo os investidores contra greenwashing.
- Estabelece critérios para avaliar se e em qual medida determinada atividade, ativo ou projeto dá suporte a objetivos de sustentabilidade.
Uma visão global
Muitos países estão adotando a criação de uma taxonomia como uma estratégia fundamental para abordar suas preocupações ambientais prementes e para auxiliar no cumprimento de seus compromissos sociais, ambientais e climáticos, como as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs). A taxonomia fornece uma estrutura para orientar os investidores, direcionando-os para áreas onde seus fundos podem ter um impacto positivo no clima, meio ambiente e em questões sociais. A integração dessas taxonomias com as metas nacionais de desenvolvimento sustentável reflete um compromisso mais amplo com a agenda global de sustentabilidade.
Como pode ser visualizado no Mapa abaixo, a elaboração e implementação de Taxonomias Sustentáveis nacionais vem se espalhando rapidamente ao redor do globo:
A adaptação de modelos como a taxonomia da União Europeia para contextos locais demonstra uma abordagem pragmática e sensível às necessidades específicas de cada país. Por exemplo, a Colômbia, ao priorizar setores relacionados ao uso da terra (agricultura, pecuária e florestas) devido à sua significativa contribuição para as emissões de gases de efeito estufa, destaca a importância de direcionar esforços para onde são mais necessários. Por sua vez, países como Austrália e Chile, onde a indústria mineira desempenha um papel central na economia, estão focando em atividades de transição, como energia, transporte e construção, para promover uma economia mais sustentável e resiliente. Essa diversidade de abordagens reflete a necessidade de soluções adaptadas às realidades locais e aos desafios específicos enfrentados por cada nação.
Taxonomia Sustentável no Brasil
O Brasil está em processo de desenvolvimento de sua própria Taxonomia Sustentável.
Em setembro de 2023, o Ministério da Fazenda lançou uma Consulta Pública para coletar sugestões e contribuições da sociedade civil para a elaboração da Taxonomia Sustentável Brasileira. Essa Consulta, que se encerrou em novembro de 2023, foi fundamental para garantir a participação de diversos setores da sociedade na construção de um instrumento robusto e abrangente.
São definidos três objetivos estratégicos:
- Mobilizar e reorientar o financiamento e os investimentos públicos e privados para atividades econômicas com impactos ambientais, climáticos e sociais positivos, visando o desenvolvimento sustentável, inclusivo e regenerativo.
- Promover o adensamento tecnológico voltado à sustentabilidade ambiental, climática, social e econômica, com elevação de produtividade e competitividade da economia brasileira em bases sustentáveis.
- Criar as bases para produção de informações confiáveis dos fluxos das finanças sustentáveis ao estimular a transparência, a integridade e visão de longo prazo para a atividade econômica e financeira.
Os objetivos ambientais, climáticos e sociais que serão abordados são:
- Mitigação da mudança do clima.
- Adaptação às mudanças climáticas.
- Proteção e restauração da biodiversidade e ecossistemas.
- Uso sustentável do solo e conservação, manejo e uso sustentável das florestas.
- Uso sustentável e proteção de recursos hídricos e marinhos.
- Transição para economia circular.
- Prevenção e controle de contaminação.
- Geração de trabalho decente e elevação da renda.
- Reduzir desigualdade socioeconômicas, considerando aspectos raciais e de gênero.
- Reduzir desigualdades regionais e territoriais do país.
- Promover a qualidade de vida, com ampliação do acesso a serviços sociais básicos.
Em relação aos setores para os quais serão identificados critérios de impacto e definidos limites, foi considerada a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os setores identificados para inclusão na taxonomia brasileira correspondem, em sua maioria, aos setores cobertos pelas taxonomias da Colômbia e do México. São os seguintes:
- Agricultura, Pecuária, Produção florestal, Pesca e Aquicultura.
- Indústrias extrativas.
- Indústria de transformação.
- Eletricidade e gás.
- Água, Esgoto, Atividades de gestão de resíduos e Descontaminação.
- Construção.
- Transporte, armazenagem e correio.
- Serviços sociais para a qualidade de vida e seu planejamento.
Por fim, no que concerne à Governança para o desenvolvimento, ajustes e revisão da Taxonomia, foram definidos três níveis:
- Primeiro nível: Grupo de Trabalho de desenvolvimento da Taxonomia Sustentável, de caráter deliberativo e composto por todos os ministérios integrantes do processo.
- Segundo nível: Grupo Supervisor, responsável pela coordenação e articulação dos dez grupos técnicos, sendo oito setoriais e dois temáticos.
- Terceiro nível: Comitê Consultivo composto por 12 representações da sociedade civil, sendo elas divididas em: 3 instituições financeiras, 3 da economia real, 2 organizações sindicais/movimentos sociais, 2 do terceiro setor e 2 da academia.
Com base nos resultados da Consulta Pública, a Taxonomia Sustentável Brasileira está em fase de desenvolvimento e sua publicação está prevista para novembro de 2024. Sua divulgação será um marco para o mercado financeiro brasileiro, pois permitirá a identificação clara de atividades e investimentos que contribuem para a sustentabilidade ambiental.
Benefícios da Taxonomia Sustentável para o Brasil
A implementação de uma Taxonomia Sustentável no Brasil traz consigo uma série de benefícios:
- Atração de investimentos sustentáveis: Identificação e priorização de atividades com impacto positivo no meio ambiente, incentivando investimentos em setores alinhados com a sustentabilidade ambiental e financeira.
- Transparência na sustentabilidade: Padronização de critérios de classificação de atividades econômicas sustentáveis, promovendo transparência e facilitando a tomada de decisões informadas por investidores e stakeholders.
- Estímulo à inovação sustentável: Identificação de oportunidades de inovação que contribuam para a sustentabilidade, impulsionando o desenvolvimento de novas tecnologias e práticas empresariais.
Desafios da Implementação da Taxonomia Sustentável no Brasil
A implementação da Taxonomia Sustentável no Brasil enfrenta desafios significativos.
Primeiramente, a falta de profissionais qualificados é uma barreira. Interpretá-la e aplicá-la requer conhecimento técnico específico, destacando a necessidade de investimentos em programas de capacitação profissional.
Em segundo lugar, embora a Taxonomia abra espaço para novos produtos financeiros sustentáveis, o mercado brasileiro ainda está em fase de desenvolvimento nesse sentido. Estimular a criação de produtos financeiros compatíveis é essencial para seu sucesso.
Em terceiro lugar, a harmonização com os padrões internacionais é outro desafio. A Taxonomia Brasileira precisa ser alinhada com padrões globais para garantir comparabilidade e interoperabilidade. No entanto, essa harmonização pode ser complexa devido às diferentes fases de desenvolvimento e maturidade das taxonomias em outros países.
Por fim, o engajamento do setor privado é fundamental. O sucesso depende da participação ativa das empresas na sua adoção e implementação. Sensibilizá-las sobre os benefícios e incentivá-las a contribuir para a construção de um mercado sustentável no Brasil são passos importantes a serem tomados.
I Care Brasil indica:
Global green taxonomy development, alignment, and implementation – Climate Bonds Initiative
Taxonomia Sustentável Brasileira: Plano de ação para consulta pública
Data: 29/02/2024
Autora: Luisa Becker
Cases Relacionados: