Com o crescente foco em ESG, empresas do setor de mineração vem dedicando esforços para adaptar seus modelos operacionais a um padrão mais sustentável. Dada a natureza intrínseca da mineração, que depende diretamente da exploração de recursos naturais, essa transição é particularmente complexa, mas é cada vez mais prioridade para investidores e stakeholders. Como viabilizar operações de menor impacto sobre a natureza, minimizando exposição a riscos relacionados à biodiversidade, aproveitando oportunidades e garantindo a sustentabilidade do negócio?
O setor minerário apresenta especificidades que amplificam desafios enfrentados por demais setores no que diz respeito à transição ecológica. Por exemplo, a mineração possui uma característica inerentemente site-specific – isto é, a localização da operação é condicionada ao local de ocorrência do minério, o que pode representar uma sobreposição com áreas ecologicamente sensíveis e/ou de importância biológica, ou ainda, áreas de ocupação de comunidades tradicionais, que podem sofrer impactos negativos oriundos da mineração principalmente nas fases de implantação e operação do empreendimento. Adicionalmente, a viabilização da atividade minerária ainda é dependente de um grande volume de água, estando exposta a riscos relacionados às mudanças na disponibilidade hídrica em função de alterações climáticas, além de ter o potencial para agravar questões de estresse hídrico dependendo da sua localização. Por fim, ao encerrar suas atividades em um site, a empresa ainda é responsável pelo fechamento de mina e todas as demais atividades que visam a recomposição e reintegração da área à paisagem, bem como o monitoramento contínuo de riscos e dos programas implementados por um prazo muito além do término das operações. Entende-se que as interfaces entre a mineração e a biodiversidade são extremamente complexas e ramificadas ao longo de toda a sua cadeia de valor.
Ao mesmo tempo, as empresas do setor também desempenham um papel relevante na promoção de ações de impacto positivo para a biodiversidade, mesmo no âmbito do compliance. Por exemplo, as empresas de mineração podem promover a criação e gestão de unidades de conservação, a recuperação de áreas degradadas, a preservação de nascentes e a implementação de programas de conservação da fauna e flora. Nesse contexto há ainda a oportunidade de potencializar essas ações para além do cumprimento de obrigações da regularização ambiental, passando pelo no net loss e visando o end-goal da transição ecológica, o nature positive. O setor pode assumir um papel chave no cumprimento dos compromissos globais para a biodiversidade.
Paralelamente, a demanda para os produtos da mineração é crescente, inclusive para atender as necessidades de uma sociedade almejando ser mais sustentável e de baixo carbono, como a transição energética (CPRM, 2023; Ministério de Minas e Energia, 2023). Porém, mesmo enquanto a demanda aumenta, capital também é direcionado para a sustentabilidade das operações. No Brasil, por exemplo, prevê-se um aumento de 62,7% de investimentos em projetos socioambientais até o ano de 2028 (IBRAM, 2024). É cada vez mais imprescindível que as empresas tenham como demonstrar para investidores e demais stakeholders o valor de suas ações de mitigação e impactos positivos, considerando também o avanço de taxonomias sustentáveis e frameworks comuns de reporte. A complexidade das interações entre as operações e a biodiversidade, não apenas em termos de impactos, mas também no que tange às dependências em relação aos serviços ecossistêmicos, seus riscos e oportunidades. Ainda, muitas empresas se deparam com um cenário de riqueza de dados, oriundos de extensos monitoramentos já realizados em suas operações, mas sem o conhecimento de como analisar esses dados e extrair as informações esperadas para reporte nos frameworks.
Diante deste cenário, o principal desafio do setor de mineração em relação à transição ecológica reside em implementar uma abordagem sistêmica que reconheça a importância da biodiversidade para os aspectos econômicos, sociais e ambientais do negócio. Isso requer a implementação de práticas de gestão ambiental integradas que considerem as interfaces das operações de mineração com a natureza em toda a cadeia de valor, desde a extração de recursos até o pós-fechamento das minas. A ausência de padronização de métricas e indicadores consolidados para mensurar adequadamente esses aspectos para além do escopo do compliance, limita a profundidade do conhecimento das empresas sobre suas dependências, riscos e oportunidades relacionados à biodiversidade. Para que as empresas desenvolvam sua maturidade da gestão da biodiversidade ao longo dos processos, é preciso não apenas coletar, mas saber analisar dados de biodiversidade, transformando-os em diretrizes para formular estratégias eficazes e incorporar essa temática ao seu core business.
Em seus projetos de biodiversidade, a I Care Brasil busca apoiar as empresas nessa jornada, fornecendo uma compreensão profunda das interações entre as operações de mineração e o meio ambiente. Nossos estudos são pautados em metodologias de frameworks globais, como o TNFD (Task Force on Nature-related Financial Disclosures), e a utilização de ferramentas atualizadas, como o SBTN (Science Based Targets Network) e ENCORE (Exploring Natural Capital Opportunities, Risks and Exposure). Também incorporamos a Avaliação de Ciclo de Vida nas nossas análises, identificando os processos ao longo da cadeia de valor que possuem maior impacto e dependência em relação à biodiversidade. Além disso, possuímos metodologias e ferramentas próprias, desenvolvidas através da expertise do nosso corpo técnico. Com isso, nossos estudos fornecem uma visão detalhada e individualizada das operações, possibilitando a identificação precisa de áreas de risco ambiental e oportunidades para melhorias sustentáveis e mitigação de riscos.
Referencias:
https://www.sgb.gov.br/publique/Noticias/Mineracao%3A-Avancos-e-perspectivas-para-2024-8479.html
https://ibram.org.br/noticia/agua-e-clima-os-grandes-desafios-da-mineracao-do-futuro/
https://sciencebasedtargetsnetwork.org/
https://www.encorenature.org/en
Data: 26/03/2024
Autora: Daniella Do Valle
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