por Argemiro Teixeira Leite-Filho
Cientistas, políticos e governantes do mundo inteiro vêm se empenhando em compreender a natureza das mudanças climáticas que estamos vivenciando, assim como os seus efeitos para as populações e seus sistemas socioeconômicos. O tema tornou-se recorrente em nosso cotidiano, em reportagens, nas empresas, nas escolas e nas esferas governamentais, já que estas mudanças não podem ser explicadas somente por fatores naturais.
A queima de combustíveis fósseis proveniente das atividades antrópicas, queimadas, desmatamento, decomposição de lixo e etc, emitem gases do efeito estufa (GEE) como, por exemplo, dióxido de carbono, nitrogênio, monóxido de carbono, metano, óxido nitroso e ozônio, que intensificam o efeito estufa. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), mais da metade do aumento observado da temperatura média da superfície global entre 1951 e 2010 foi causado pela influência humana sobre o clima através das emissões de GEE, culminando no aquecimento dos oceanos, derretimento da neve e do gelo, aumento do nível médio global do mar e intensificação de extremos climáticos na segunda metade do século XX.
O agronegócio brasileiro é o setor da economia nacional mais suscetível às variações do clima, e já vem sofrendo fortes oscilações no volume das colheitas e na qualidade dos diferentes cultivares. Isso porque, de todas as atividades econômicas, a agricultura é a mais dependente do clima e, consequentemente, a mais sensível a sua mudança. Ao mesmo tempo, as atividades agropecuárias geram emissões de GEE para a atmosfera, principalmente os compostos de carbono (CO2 e CH4) e nitrogênio (N2O). Dessa forma, contribuem para o efeito estufa e aquecimento global ao mesmo tempo em que sofrem as consequências do clima mais extremo.
Mudanças Climáticas – O importante papel das chuvas
Há de se ressaltar que, de acordo com o IBGE, apenas 10% da agricultura no Brasil é irrigada, ou seja, não depende da chuva, o que torna a instabilidade climática um risco econômico e social para a cadeia de produção agrícola, tanto para exportação, quanto para consumo interno. No começo deste ano, a Confederação Nacional da Agricultura contabilizou que a safra 2021/2022 sofreu perdas de R$70 bilhões com a estiagem. Desde 2019, a perda média de rentabilidade por safra está em R$45 bilhões.
Isto acontece pois as mudanças climáticas causadas pelo aumento de GEE na atmosfera estão associadas a um prolongamento da estação seca, uma maior frequência de eventos extremos climáticos e menores volumes de chuva (Duffy et al 2015). Se nos primeiros estágios de desenvolvimento das mudas o clima fica instável, e não chove na hora esperada ou a temperatura sobe muito, tem-se um cenário propício para a queda na produção das safras e pastagens. Além disso, o aumento da frequência e intensidade dos extremos climáticos e hidrometeorológicos, como ondas de calor, secas, chuvas intensas, inundações, entre outros, podem levar a grandes perdas de produção, principalmente em anos nos quais as condições climáticas sejam desfavoráveis.
Nestes anos, a alteração no regime de chuvas terá impacto direto na capacidade do país de manter o plantio de duas safras anuais, hoje responsável por boa parte do aumento de produção de grãos. É importante ponderarmos ainda que, teoricamente, até certos limites de concentração, o aumento do CO2 faz as plantas serem mais eficientes na produção de matéria orgânica, o chamado efeito de “fertilização de CO2”. Isto é, precisam de menos água para produzir a mesma quantidade de matéria orgânica por meio da fotossíntese. Entretanto, há muitos outros fatores controlando a eficiência fotossintética e, no conjunto de todos os fatores ambientais, a fertilização de CO2 não é capaz de compensar o severo impacto negativo na produtividade causado pelas mudanças climáticas.
Meios de reverter este cenário
Para enfrentar estes riscos, devem ser crescentes os investimentos públicos e privados em pesquisa para o desenvolvimento de sistemas de produção mais resilientes à mudança do clima. Entre as práticas e os sistemas aplicados no Brasil, pode-se destacar: o plantio direto, o manejo integrado da fertilidade de solos, a captação de água nos sistemas agrícolas, a irrigação inteligente, a agricultura de precisão e a agricultura orgânica.
Dentre as múltiplas estratégias, é importante destacar, principalmente, a corrida pelas diversas técnicas e tendências para o desenvolvimento de novas variedades de plantas mais resistentes à condições adversas, como secas e altas temperaturas, e com absorção mais eficiente de nutrientes, ou seja, com um melhoramento genético, trabalho que a EMBRAPA realiza há muitos anos no Brasil.
Além disso, a conservação ambiental e a proteção dos ecossistemas naturais são fundamentais para mitigar os efeitos das mudanças climáticas regionalmente e localmente e até diminuí-la, uma vez que, segundo a Embrapa, as florestas são o principal elemento da biota terrestre que atua como sumidouro de carbono, removendo atualmente cerca de 36% das emissões de CO2 oriundas das atividades humanas e condicionando o clima local.
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