O geoprocessamento é um conjunto de tecnologias que permite a coleta, o armazenamento, a análise, a interpretação e a apresentação de dados geográficos. Através do Geoprocessamento é possível integrar diferentes tipos de dados em um Sistema de Informações Geográficas (SIG), organizando-os em camadas, como na Figura, que podem ser analisadas e manipuladas. As técnicas de geoprocessamento incluem a análise de dados espaciais, vetoriais e matriciais, por meio de funções matemáticas e estatísticas, além da visualização e apresentação de dados em mapas temáticos, gráficos e tabelas.
A análise e modelagem ambiental utilizando técnicas de geoprocessamento auxilia a gestão de riscos climáticos nas cidades, pois permite uma análise integrada dos diversos aspectos relacionados à vulnerabilidade da população, ordenamento territorial, projeções climáticas, dinâmica do uso e ocupação do solo, entre outros diversos fatores que influenciam e determinam o risco.
Com essa tecnologia, é possível identificar as áreas mais vulneráveis aos eventos climáticos extremos – como chuvas extremas e ondas de calor, no exemplo da Figura a seguir -, avaliar a disponibilidade de recursos hídricos, monitorar a preservação de áreas verdes, avaliar a topografia, identificar pontos críticos e que demandam maior atenção nas cidades, entre outros elementos que, combinados, auxiliam o processo de definição de medidas preventivas que podem minimizar o efeito do clima sobre a população. Não obstante, o uso do geoprocessamento para análise e gestão de riscos climáticos nas cidades é uma ferramenta importante para a construção de Planos de Adaptação Climática.
Exemplos de aplicações
Exemplos recentes desenvolvidos pela I Care são as avaliações de riscos climáticos das cidades de Curitiba-PR (Finalizado) e Teresina-PI (Em execução). Estes estudos objetivaram identificar e mapear as áreas mais vulneráveis a eventos climáticos extremos, como enchentes, deslizamentos de terra e secas, e avaliar a capacidade destas capitais em lidar com esses riscos. Para isso, foram utilizados dados climáticos históricos, como índices pluviométricos e de temperatura, e modelos climáticos futuros para estimar os possíveis impactos das mudanças climáticas nas cidades, integrados por ferramentas de programação computacional e geoprocessamento.
Os estudos também consideram as características socioeconômicas e ambientais da cidade, como densidade populacional, cobertura vegetal e uso do solo, para entender como esses fatores influenciam a vulnerabilidade da população aos riscos climáticos. Com base nos resultados destes estudos, são propostas diversas medidas para reduzir a vulnerabilidade da cidade aos riscos climáticos, como a implementação de sistemas de alerta e monitoramento de enchentes e deslizamentos de terra, investimentos em infraestrutura de drenagem e saneamento, promoção da adoção de práticas de conservação ambiental e de soluções baseadas na natureza e a melhoria da capacidade de resposta do sistema de emergência das cidades.
A I Care também foi co-responsável pelo levantamento de Vulnerabilidade e Adaptação à Mudança Climática da cidade de Guayaquil, no Equador, em um trabalho que também levantou uma série de medidas de adaptação para serem implementadas futuramente.
Experiência global no uso do geoprocessamento
Outros exemplos da aplicação do geoprocessamento na análise de riscos climáticos se espalham pelo país e pelo mundo. Fortaleza, Campinas, São Paulo, Belo Horizonte, Recife, por exemplo, são cidades que recorreram ao geoprocessamento para a análise e gestão de riscos climáticos. Nos Estados Unidos, o cruzamento de informações das projeções climáticas, das áreas com maior exposição de ativos e o mapeamento dos grupos socialmente vulneráveis estão entre os dados levantados no relatório de Mudança do clima e vulnerabilidades sociais nos Estados Unidos.
Nesse relatório foram avaliados os riscos de qualidade do ar, temperaturas extremas, e inundações, em relação à qualidade de vida, trabalho, tráfego e às propriedades na costa e no interior do país, e como essa combinação de ameaças climáticas e a exposição, impactam grupos como pessoas com 65 anos ou mais, com baixo nível de escolaridade, minorias e população de baixa renda.
Todos os aspectos mencionados foram apresentados de forma georreferenciada, o que permitiu seu cruzamento e a geração de dados para a análise dos resultados dos riscos. Dentre as constatações, apontou-se que nas Grandes Planícies do Norte, aqueles com 65 anos ou mais são 15% mais vulneráveis a viverem em áreas com maiores danos projetados por inundações, e no Sudeste, as minorias são 62% mais propensas a viver em áreas com os maiores atrasos de tráfego causados por inundações na maré alta.
Reino Unido em foco
O Reino Unido também tem desenvolvido análises de risco climático, desde 2008, devido a uma demanda do governo por meio do 2008 Climate Change Act. Dentre os resultados, o relatório adverte que, com 300.000 casas a serem construídas a cada ano no Reino Unido, existe um grande risco de bloqueio se não forem planejados e construídos para atender o superaquecimento juntamente com eficiência energética e aquecimento de baixo carbono.
Além disso, caso não seja tomada nenhuma medida, sob um aquecimento de 2°C até 2100, os danos causados por inundações para propriedades não residenciais em todo o Reino Unido deverá aumentar em 27% até 2050 e 40% até 2080. Em 4°C esse valor aumentará para 44% e 75%, respectivamente.
O Geoprocessamento como Ferramenta Essencial na Gestão de Riscos Climáticos
Em suma, na análise e gestão de riscos climáticos, o geoprocessamento é uma ferramenta essencial para a identificação e monitoramento de áreas vulneráveis a eventos climáticos extremos, como enchentes, deslizamentos de terra, secas, entre outros. Com a análise espacial, é possível identificar padrões e tendências em diferentes escalas, desde uma pequena região até uma escala global, ajudando a compreender melhor os fatores que contribuem para a ocorrência desses eventos. Além disso, o geoprocessamento também permite a simulação de cenários futuros, com base em diferentes variáveis e modelos climáticos.
Essas simulações são úteis para a tomada de decisões, pois permitem avaliar os possíveis impactos de políticas e projetos relacionados à adaptação e mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. Dessa forma, o geoprocessamento se torna uma ferramenta fundamental para a gestão de riscos climáticos, uma vez que possibilita a tomada de decisões mais informada e eficaz, contribuindo para a redução dos impactos socioeconômicos e ambientais causados por eventos climáticos extremos.
Data: 19/10/2023
Autoria: Laís Souza, Victor Gonçalves e Argemiro Teixeira
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