Por Victor Pires Gonçalves
A Rio 92 cunhou o princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas, que evidencia o reconhecimento de que a preocupação com o aquecimento global é de todos, mesmo em proporções diferentes. Isso quer dizer que as entidades nacionais precisam reduzir suas emissões, as pessoas precisam repensar seus modos de vida e as empresas precisam descarbonizar seus processos e produtos. Cada entidade tem desafios próprios e as empresas no Brasil começaram a tentar fechar essa conta.
Atualmente nenhum país tem metas alinhadas ao Acordo de Paris segundo o Climate Action Tracker, que indica também que as políticas atualmente em vigor em todo o mundo devem resultar em um aumento da temperatura de cerca de 2,7°C acima dos níveis pré-industriais. Quando as metas de longo-prazo definidas durante a COP26 são levadas em consideração, o aumento chega a 2,1°C. Mesmo em cenários otimistas, a temperatura ainda se sobrepõe ao objetivo do Acordo de Paris, que é limitar o aumento da temperatura a 1,5°C. Estima-se que o mundo precise reduzir entre 19 e 23 GtCO2e por ano em 2030 para seguir a um caminho próximo ao que seria consistente com esse limite.

Com a insuficiência das metas nacionais, a atenção se volta ao consumidor, que, no entanto, tem um papel bastante limitado em função do ambiente em que vivem. Em um estudo do perfil de emissão europeu, verificou-se que o potencial de redução de emissões do consumidor está limitado à 25% (Moran et al., 2018)[1]. Esse valor leva em consideração as opções de transporte, alimentação, disposição de resíduos, compras, entre outros que estão à disposição de uma pessoa que mora na Europa. Cidadãos de outros países, com menos acesso à sistemas de transporte eficientes, com restrição de alimentação e operando lixões a céu aberto certamente terão menos opções para reduzir sua pegada.
Então, sete anos depois da promulgação do Acordo de Paris, as empresas começam a se conscientizar que também detém responsabilidades importantes em relação à descarbonização do planeta. Atualmente são pouco mais de 3500 empresas comprometidas com metas baseadas na ciência no mundo, sendo 46 no Brasil. Dessas 46, apenas 9 estão comprometidas com um alinhamento que mantem a temperatura 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. Isso demonstra que a maior parte das empresas ainda está em estágio inicial de desenvolvimento de sua estratégia de descarbonização ou não sabe muito bem como iniciá-la.
Para se ter uma ideia, o Brasil tem 19 milhões de empresas segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e apenas 190 participam do Programa Brasileiro GHG Protocol, ligado à Fundação Getúlio Vargas, cujo propósito é registrar de forma pública seus Inventários de Emissões de Gases de Efeito Estufa. Como o Inventário é o primeiro passo da descarbonização, fica evidente de que a grande maioria das empresas ainda precisa iniciar sua jornada para alinhamento ao cenário 1,5°C.
O processo de descarbonização já está bem estabelecido (ver infográfico abaixo) e agora cabe às empresas se adequarem, pois é cada vez maior o número de investidores que cobram estratégias nas esferas ambiental, social e de governança. Segundo a o Global Sustainable Investment Review 2020 da Bloomberg Intelligence, o setor ESG ultrapassou US$ 35 trilhões em valor em 2020 e o valor deve chegar a US$ 50 trilhões em 2025.

Não é um caminho fácil e as empresas ainda tem muita dificuldade em descarbonizar seus processos e produtos. Por não ser fácil, não deixa de ser necessário. Portanto, conhecer os passos, as metodologias e os detalhes que se deve ter atenção, pode ajudar a preparar os negócios das empresas para o futuro, além de contribuir para fechar a conta que os países e as ações individuais ainda não conseguiram fechar. Ter atenção a todo esse processo pode evitar esforços sem resultados ou problemas reputacionais.

A I Care pode te ajudar a avançar no processo de descarbonização. Eu me importo, e você?
- [1] Daniel Moran, Richard Wood, Edgar Hertwich, Kim Mattson, Joao F. D. Rodriguez, Karin Schanes & John Barrett (2020) Quantifying the potential for consumer-oriented policy to reduce European and foreign carbon emissions, Climate Policy, 20:sup1, S28-S38, DOI: 10.1080/14693062.2018.1551186
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