De acordo com uma teoria da década de 70, o planeta Terra é um organismo vivo e interconectado, ou seja, é mais do que apenas um conglomerado de elementos físicos; é um sistema dinâmico onde a biosfera, litosfera, hidrosfera e atmosfera estão intrinsecamente ligadas, formando uma entidade coesa. Essa teoria, chamada de Gaia, foi proposta pelo ecologista britânico James Lovelock e permite aferir que todos os componentes do planeta interagem de maneira complexa para manter o equilíbrio ecológico, regulando temperatura, composição atmosférica e outros fatores essenciais para a sustentação da vida.
Essa visão holística da Terra não apenas enfatiza a interconexão entre todos os seus elementos – da atmosfera aos ecossistemas marinhos – mas também destaca a fragilidade desse equilíbrio. Diante da ameaça das mudanças climáticas, da perda de biodiversidade e da degradação ambiental, torna-se evidente a necessidade de conservação do nosso planeta. Proteger a Terra e seus limites não é apenas um imperativo moral, mas uma questão de sobrevivência para todas as formas de vida que a habitam, incluindo a nossa.
Quais são os limites planetários?
Em 2009, Johan Rockström liderou um grupo de 28 cientistas internacionais para identificar os processos que regulam a estabilidade e a resiliência do planeta Terra. Essa abordagem inovadora identificou diversos processos e sistemas ambientais cruciais para a estabilidade do planeta, estabelecendo limites dentro dos quais a atividade humana deve permanecer para evitar danos irreversíveis ao ambiente global.
Usando modelos e avaliando a literatura para quantificar os limites seguros e justos do sistema terrestre em escala global e subglobal, a última atualização, publicada em Maio de 2023 na revista Nature, indicou que a humanidade já ultrapassou 7 dos 9 limites seguros. Os limites adotados e os valores atuais são apresentados na Tabela 1 do artigo da Nature.
Em um outro estudo de mesma natureza, publicado na revista Science em Setembro de 2023, cientistas indicaram que a Terra sofre pressão sobre 6 dos 9 limites planetários. A imagem abaixo, produzida pelo Stockholm Resilience Centre, mostra como a abordagem e os resultados vêm evoluindo desde que o estudo foi produzido pela primeira vez.
De acordo com o estudo de Setembro, para todos os limites anteriormente identificados como transgredidos (mudança climática, integridade da biosfera, mudança do uso do solo, mudança na água doce e fluxos biogeoquímicos), o grau de transgressão aumentou desde 2015. Além desses limites, as Novas Entidades, marcadores geológicos do Antropoceno, não calculadas em 2015, que incluem, por exemplo, microplásticos, materiais radioativos, modificação humana da evolução, entre outros, também ultrapassaram a zona de segurança.
Uma Situação Global Urgente: O Que Podemos Fazer?
À luz dos estudos produzidos, uma série de pesquisadores e cientistas vem pedindo ações urgentes para gerenciar esses limites. Segundo eles, é preciso eliminar gradualmente os combustíveis fósseis, transformar o sistema alimentar e eliminar as pressões sobre todos os limites do planeta – de uma forma justa.
“Estamos nos dirigindo para um desafio com décadas de superação dos limites. A única maneira de voltar é também fazer a transição para dentro de todos os limites planetários. Precisamos de todos os limites no lado seguro para que a biosfera seja amortecida na transição e tenha alguma chance de evitar cruzar os pontos de inflexão”, diz Johan Rockström.
A ultrapassagem dos limites planetários pode desencadear uma cascata de impactos que reverberam profundamente na sociedade, levando a uma mudança social desafiadora. À medida que os ecossistemas se deterioram e os recursos naturais se tornam escassos, os sistemas econômicos podem se desestabilizar, levando a crises financeiras e colapsos econômicos. Além disso, a ruptura da coesão social pode ocorrer à medida que as comunidades enfrentam lutas crescentes pela sobrevivência, exacerbadas pela competição por recursos limitados. Essas tensões podem rapidamente se transformar em conflitos violentos, aprofundando ainda mais o sofrimento humano e amplificando os impactos sobre as pessoas, especialmente as mais vulneráveis.
Qual o papel da I Care nesse cenário?
Além do nosso compromisso em promover um planeta mais sustentável por meio dos nossos projetos e atividades, a I Care reconhece também a importância e a sua responsabilidade em alertar a população, empresas, bancos e o governo sobre a urgência da conscientização e da mobilização de todos os setores da sociedade para enfrentamento aos desafios ambientais.
Nossos produtos em Clima (inventário de emissões, análise de risco climático, planos de transição etc.), Finanças Sustentáveis (avaliação da sustentabilidade ambiental de carteiras de crédito, planos de ação para instituições financeiras etc.) e Biodiversidade (análise de impactos e dependências, TNFD, planos de ação de biodiversidade etc.) permitem que empresas, governos e atores financeiros trabalhem em direção a soluções sustentáveis.
Autor: Victor Gonçalves – Coordenador de projetos climáticos
Data: 22/04/2024
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