BRDE: Transformando a Sustentabilidade em Estratégia de Negócios

Implementação de Estratégias Sustentáveis para o BRDE

A implementação de estratégias sustentáveis em instituições financeiras é uma demanda urgente para garantir que o setor financeiro se adapte aos riscos climáticos e sociais emergentes, e o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) é um exemplo notável dessa transformação. Em parceria com a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) e a consultoria da I Care, o BRDE desenvolveu iniciativas concretas para se alinhar a critérios ESG (ambientais, sociais e de governança), beneficiando tanto o banco quanto a economia da região sul do Brasil. Vamos explorar como essas ações de sustentabilidade não apenas melhoraram a resiliência e a competitividade do BRDE, mas também promoveram benefícios ambientais e sociais duradouros.

 

  1. A importância de estruturar financiamentos sustentáveis

Com uma carteira de crédito de R$ 18,6 bilhões, o BRDE tem um papel significativo em financiar e apoiar projetos sustentáveis no Sul do Brasil. A parceria com a AFD proporcionou a criação de linhas de crédito focadas em ação climática, atendendo a rigorosos critérios de elegibilidade que garantem co-benefícios ambientais. Entre 2018 e 2024, o BRDE apoiou 133 projetos nos segmentos de Agricultura Sustentável e Florestas, Energia Renovável e Limpa, Uso Racional e Eficiente da Água, Gestão de Resíduos Sólidos e Efluentes Líquidos, Cidades Sustentáveis e Outros Setores Inovadores. Esses projetos foram responsáveis por mitigar 28,11 milhões de toneladas de CO₂ equivalente, uma contribuição essencial para uma economia de baixo carbono.

 

  1. Inventário de emissões de Gases de Efeito Estufa: o primeiro passo para a descarbonização

Para atuar com transparência e responsabilidade ambiental, o BRDE realizou inventários anuais de emissões de gases de efeito estufa (GEE) de 2017 a 2022, seguindo o GHG Protocol e as diretrizes do Partnership for Carbon Accounting Financials (PCAF). Essa iniciativa permitiu ao banco identificar setores de alta emissão em sua carteira de crédito, possibilitando a criação de metas de descarbonização e adesão a frameworks globais como a Science Based Targets initiative (SBTi) e a Net-Zero Banking Alliance (NZBA). Além de mensurar e monitorar as emissões, essa análise fortalece a visão do banco sobre os impactos ambientais das operações e orienta o redirecionamento de recursos para setores menos poluentes.

 

  1. Instrumentos para desenvolvimento e implementação de estratégia climática

 A gestão de riscos ambientais e sociais é central para o BRDE, especialmente com o aumento de regulamentações como as resoluções do Banco Central, que exigem que os bancos integrem a variável climática em suas matrizes de risco. Em resposta, apoiamos o Banco no desenvolvimento e implementação do Sistema de Avaliação de Riscos Socioambientais e Climáticos (SARSAC). O SARSAC segue padrões internacionais, como os da International Finance Corporation (IFC), e foi adaptado para o contexto brasileiro com a metodologia da Régua de Sensibilidade ao Risco Climático da FEBRABAN (Federação Nacional dos Bancos).

Com essa ferramenta, o BRDE é capaz de identificar operações e setores de maior risco climático e tomar decisões de crédito mais responsáveis, redirecionando capital para áreas que geram impacto ambiental positivo. Além disso, o SARSAC fortalece a capacidade do banco de gerenciar riscos que podem afetar sua sustentabilidade financeira, como o risco de crédito e o risco reputacional.

 

  1. Medindo a Pegada de Carbono e Biodiversidade do portfólio

A pegada de carbono de uma instituição financeira vai além de suas operações diretas, abrangendo também as emissões das atividades que ela financia. Em 2022, o BRDE aplicou a metodologia PCAF para avaliar as emissões de GEE de sua carteira, categorizando-as por setor. Esse cálculo possibilita ao banco traçar estratégias para reduzir a pegada de carbono financiada, seja por meio da diminuição do financiamento a setores intensivos em carbono ou pela priorização de investimentos em setores de baixa emissão.

Em paralelo, o BRDE também avançou na mensuração de seu impacto sobre a biodiversidade, uma preocupação crescente no setor financeiro devido ao alto risco que sua perda representa. Com a metodologia Corporate Biodiversity Footprint (CBF), desenvolvida pela I Care, o banco analisou a dependência de seu portfólio em relação à biodiversidade e aos serviços ecossistêmicos, permitindo uma visão holística do impacto ambiental. Esse diagnóstico auxilia o BRDE a priorizar investimentos em setores que conservem a natureza e contribuam para um portfólio nature positive.

 

  1. Diagnóstico de apoio à elaboração da estratégia de diversidade, equidade e inclusão

A sustentabilidade vai além do aspecto ambiental; ela também abrange a responsabilidade social e a promoção de uma cultura inclusiva. Apoiados pelo Comitê Pró-Equidade e de Valorização da Diversidade, realizamos um diagnóstico interno e benchmarks com outras instituições de desenvolvimento para definir uma estratégia de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) para o BRDE.

O diagnóstico revelou pontos fortes e áreas de melhoria para o banco, resultando na estruturação de quatro eixos principais de ação. Um workshop de sensibilização consolidou a estratégia e alinhou os colaboradores às novas diretrizes, fortalecendo o compromisso do BRDE com uma cultura organizacional mais diversa e inclusiva. Esse trabalho contribui para que o banco esteja mais alinhado com os padrões globais de responsabilidade social, atraindo talentos diversos e ampliando seu impacto positivo na sociedade.

 

  1. Resultados concretos e valor gerado

A parceria com a I Care rendeu ao BRDE ferramentas e conhecimentos que melhoram sua resiliência às mudanças climáticas e sociais. Além disso, trouxe inúmeros benefícios para a operação e a reputação do banco:

Capacitação e Alinhamento Estratégico: Os colaboradores do BRDE foram treinados em temas críticos da agenda climática e ESG, equipando a instituição para adotar medidas alinhadas com o Acordo de Paris.

Ferramentas Inovadoras para Monitoramento: O SARSAC e a metodologia CBF permitem ao BRDE adotar abordagens baseadas em dados para tomar decisões de crédito, monitorar riscos climáticos e biodiversidade e relatar os avanços para seus stakeholders.

Conformidade e Reputação: Alinhado às regulamentações nacionais e internacionais, o BRDE tornou-se um modelo de boas práticas no setor financeiro brasileiro, o que fortalece sua imagem institucional e facilita o acesso a recursos externos.

A colaboração entre o BRDE e a I Care capacitou o Banco a integrar práticas sustentáveis em suas operações, promovendo uma cultura de sustentabilidade que gere valor a longo prazo para a instituição, e que estimule o desenvolvimento econômico da Região Sul considerando a proteção ao clima e ao meio ambiente.

 

Conclusão

A trajetória do BRDE para integrar a sustentabilidade em sua estratégia de negócios é um exemplo para o setor financeiro e uma inspiração para outras instituições que buscam adotar práticas ESG. A parceria com a I Care e a AFD foi essencial para que o banco avançasse em áreas estratégicas, desde a análise de risco climático até a promoção de diversidade.

Com um portfólio mais sustentável e práticas sólidas de gestão de risco, o BRDE está preparado para enfrentar os desafios de um mundo em transição, atuando como um agente de mudanças na economia regional. Essa jornada mostra que o compromisso com a sustentabilidade não é apenas uma necessidade regulatória, mas um diferencial competitivo que traz benefícios tangíveis para a sociedade, o meio ambiente e a própria instituição.

 

Referências

Banco Central do Brasil. IF Data. Dados referentes ao mês de março de 2024. Disponível em: https://www3.bcb.gov.br/ifdata/. Acesso em 09 ago. 2024.

 

Publicado em: 07/11/2024

Autoria: Joyce Bovo e Luisa Becker

Este site utiliza cookies para lhe oferecer uma melhor experiência de navegação. Ao navegar neste site, você concorda com o uso de cookies.