As emissões do setor de saneamento
Mundialmente, há diversas discussões quanto a estratégias de redução de emissões de gases do efeito estufa (GEE), com o objetivo de alcançar o marco de “Net Zero”, em especial nas corporações de setores como energético, identificado pelo Sistema de Registro Nacional de Emissões (SIRENE) como o terceiro maior setor emissor no Brasil (22% de CO2e). Por esta razão, nesse setor têm sido estabelecidos compromissos ambiciosos. Nesse sentido, uma série de empresas vêm, por exemplo, definindo metas baseadas na ciência (Science Based Targets – SBTi) e estratégias de descarbonização, especialmente em setores de elevada emissão.
Contrastando com o avanço em setores como o energético, o setor de saneamento básico (responsável por cerca de 5% das emissões nacionais em 2020, segundo o SIRENE). No caso específico das emissões do tratamento de águas residuárias (efluentes) totalizaram 33 Mt CO2e em 2020, o que correspondente à 1,89% das emissões nacionais, de acordo com o SIRENE. O setor de saneamento ainda está nos estágios iniciais de implementação de estratégias de redução de carbono. Esse aspecto está vinculado, principalmente, aos desafios predominantes do setor relacionados ao atingimento da universalização dos serviços de saneamento no país e à indisponibilidade de metodologias setoriais para auxiliar na elaboração dessa estratégia.
Pelos inventários de GEE das companhias de saneamento brasileiras, os processos de tratamento de efluentes são responsáveis por cerca de 92% a 95% das emissões diretas de gases de efeito estufa (GEE), a depender das tecnologias de tratamento de esgoto e de gás utilizados. Nas prestadoras de serviço de saneamento básico, essas emissões são provenientes dos processos anaeróbios e aeróbios, que produzem gases com alto potencial de aquecimento global, como metano (CH4) e óxido nitroso (N2O). Os processos anaeróbios, produzem maiores quantidades de metano, em comparação aos processos aeróbios, e por esta razão, tem sido adotados com maior frequência para novas plantas de tratamento de esgoto.
Vale destacar que as tecnologias de captura e tratamento de gases, em especial dos processos anaeróbios, oferecem meios para atenuar as emissões decorrentes dos processos anaeróbios – seja por meio da queima controlada ou do reaproveitamento energético -, contudo, elas ainda enfrentam limitações em reduzir as emissões de forma abrangente. Isso destaca a necessidade de investimentos contínuos em pesquisa e desenvolvimento para melhorar tanto a precisão dos cálculos de emissões quanto para a utilização de tecnologias de tratamento de esgoto mais eficazes na redução dessas emissões.
Desafio para redução de emissões de GEE
Por meio da meta de universalização, a ampliação dos sistemas de coleta e tratamento de esgoto sanitário criam, por um lado, o aumento do volume de esgoto e consequentemente, o volume de emissões e por outro lado, uma oportunidade de implementar tecnologias de baixa emissão. Neste contexto, as prestadoras de serviço de saneamento se deparam com o desafio duplo de alcançar a universalização dos serviços de esgotamento sanitário, preconizado pelo PLANSAB e reforçado pelo novo Marco Legal do Saneamento, e de encontrar soluções para mitigar as emissões de GEE no tratamento de efluentes.
Diante desse cenários, para garantir a redução das emissões, as prestadoras necessitam se comprometer com esforços na busca de soluções inovadoras, atuando em três frentes principais:
(i) implementação de soluções alternativas para o cálculo e monitoramento das emissões;
(ii) otimização e implantação de novas tecnologias de tratamento de esgoto;
(iii) otimização e implantação de soluções para captura e tratamento de metano e óxido nitroso;
Descarbonização no setor de saneamento
Conforme indicado pelo relatório ESG e Tendências no Setor de Saneamento “Pela transição da economia global e nacional para uma economia de baixo carbono, onde emissões de gases, que provocam o efeito estufa, serão contabilizadas e possibilidades de absorção de carbono extremamente valorizadas”. Logo, a tendência é que as prestadoras que se esforçarem a pensar estratégias de descarbonização para o setor, irão se destacar, tendo em vista que esse aspecto têm sido uma demanda frequente de investidores.
A rota para garantir a redução de emissões de GEE, inclui o aprimoramento e maior assertividade dos valores das emissões, análise de alternativas tecnológicas para tratamento de esgoto, captura e tratamento de GEE e definição das principais soluções a serem adotadas pelas prestadoras como alavancas de descarbonização, considerando o seu custo-benefício. Em complemento, devem ser estudados os cenários futuros de precificação de carbono, dentre outros aspectos relevantes para o estudo. Assim é possível construir uma curva de descarbonização personalizada para cada prestadora de serviço de saneamento básico.
A I Care apoia empresas do setor de saneamento em trabalhos voltados para o diagnóstico e construção. Mais recentemente a consultoria apoiou o levantamento de riscos climáticos de uma série de ativos e ajudou a construir o Plano de Adaptação de uma empresa do setor. Também podemos apoiar as empresas do setor na construção de suas estratégias de descarbonização.
Referências
SIRENE – Emissões de GEE por setor – https://www.gov.br/mcti/pt-br/acompanhe-o-mcti/sirene/emissoes/emissoes-de-gee-por-setor-1
SIRENE – Emissões por subsetor – https://www.gov.br/mcti/pt-br/acompanhe-o-mcti/sirene/emissoes/participacao-de-emissoes-de-gee-por-subsetor
ESG e Tendências no Setor de Saneamento do Brasil – https://tratabrasil.org.br/wp-content/uploads/2023/02/ESG-e-Tendencias-no-Setor-de-Saneamento-do-Brasil-ITB.pdf
IPCC – https://www.ipcc-nggip.iges.or.jp/public/2019rf/index.html
Lei nº 14.026, de 15 de julho de 2020 – https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/lei/l14026.htm
Data: 03/05/2024
Autora: Laís Alves
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