A mudança climática vem se tornando uma importante ameaça aos setores produtivos e suas infraestruturas, especialmente na ocasião de eventos extremos, como alamentos e inundações, ondas de calor, tempestades e secas prolongadas. Esses eventos representam riscos significativos para os negócios, que incluem, dentre outros, a interrupção das cadeias de suprimentos, a perda de produtividade, os danos à infraestrutura, o aumento dos custos de operação e até a inviabilidade total da produção. Portanto, o levantamento estruturado dos fatores de risco, seguindo a ISO 14091, é essencial para a redução dos danos.
Segundo o Fórum Econômico Mundial, em seu Relatório de Riscos Globais de 2023, o segundo maior risco à economia mundial nos próximos dois anos serão os desastres naturais e eventos climáticos extremos, sendo que a falha nas ações de mitigação das emissões de gases de efeito estufa e a falha nas ações de adaptação à mudança climática serão os principais riscos no longo prazo (Figura 1).
Figura 1. Pesquisa de Percepção dos Riscos Globais de 2022-2023
Fonte: Fórum Econômico Mundial, 2023.
Segundo dados da resseguradora Swiss Re, os desastres naturais relacionados ao clima causaram perdas econômicas globais de aproximadamente 275 bilhões de dólares em 2022. Já segundo a seguradora AON, os prejuízos ultrapassaram US$ 313 bilhões, sendo que no Brasil, estimam-se perdas de mais de US$ 5 bilhões e quase 500 vidas perdidas. Foram mais de 1.100 desastres naturais no Brasil em 2023, segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).
Os desafios ficam cada vez mais evidentes, como no contexto da recente tragédia no Rio Grande do Sul, que recebeu alto volume de chuvas na última semana de abril e primeira semana de maio de 2024, provocando enchentes e inundações (Figura 2). Foram 469 municípios afetados no Rio Grande do Sul (de um total de 497 – 94%), com 581 mil desalojados, 169 óbitos confirmados e 2,3 milhões de indivíduos afetados. Segundo a Confederação Nacional dos Municípios (CNM), os prejuízos do desastre somam R$ 10,4 bilhões, sendo R$ 2,7 bilhão somente na agricultura e R$ 267 milhões em prejuízos na indústria e R$ 130,2 milhões no comércio.
Figura 2. Inundação do Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, que ficará fora de operação até agosto
Fonte: Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), 2024.
Neste cenário de eventos extremos mais intensos e mais frequentes, a mensuração da probabilidade de ocorrência de uma ameaça climática e avaliação de seus possíveis impactos torna-se fundamental para as infraestruturas de empresas e indústrias. As organizações que não compreendem os efeitos dos riscos das alterações climáticas em suas operações estão mais vulneráveis e podem acabar se tornando menos competitivas.
Para apoiar empresas e indústrias, em 2021, foi publicada a norma ISO 14091, que oferece diretrizes para uma avaliação criteriosa dos riscos e oportunidades associados ao clima sobre infraestruturas. O levantamento do risco é essencial para fundamentar um plano de adaptação de longo prazo, exigência cada vez maior dos investidores e seguradoras. As diretrizes da ISO 14091 são aplicáveis a qualquer organização, independentemente do setor ou tamanho. Para ajudar sua empresa nesse levantamento, preparamos um infográfico com dicas práticas.
Nos últimos anos, a I Care Brasil realizou uma série de levantamentos dos riscos climáticos sobre infraestruturas usando as diretrizes da ISO 14091: no setor portuário, no setor de geração de energia e sobre infraestruturas de saneamento. A Análise de Riscos Climáticos desempenha um papel vital na proteção de infraestruturas e ativos em face aos efeitos negativos das mudanças climáticas.
Ao identificar os riscos nas infraestruturas dos setores mencionados, foi possível desenvolver estratégias de adaptação, buscando fortalecer a resiliência das empresas e indústrias. Além disso, a adoção da ISO 14091 pode aumentar a confiança dos investidores e outras partes interessadas, demonstrando um compromisso proativo com a sustentabilidade e a gestão responsável dos riscos climáticos.
Referências
Swiss Re Institute. Natural catastrophes and inflation in 2022: a perfect storm. 2023. Disponível em: https://www.swissre.com/dam/jcr:1d793484-9b96-4e54-91c3-09f8fc841bde/2023-05-sigma-01-english.pdf. Acesso em 27 mai. 2024.
AON. Weather, Climate and Catastrophe Insight. 2023. Disponível em: https://www.aon.com/getmedia/f34ec133-3175-406c-9e0b-25cea768c5cf/20230125-weather-climate-catastrophe-insight.pdf. Acesso em 27 mai. 2024.
Defesa Civil RS. Defesa Civil atualiza balanço das enchentes no RS. 2024. Disponível em: https://estado.rs.gov.br/defesa-civil-atualiza-balanco-das-enchentes-no-rs-27-5-9h. Acesso em 27 mai. 2024.
Confederação Nacional de Municípios. Em um mês, tragédia no Rio Grande do Sul contabiliza R$ 10,4 bilhões em prejuízos e registra números recordes dos últimos 11 anos. 2024. Disponível em: https://www.cnm.org.br/comunicacao/noticias/em-um-mes-tragedia-no-rio-grande-do-sul-contabiliza-r-10-4-bilhoes-em-prejuizos-e-registra-numeros-recordes-nos-ultimos-11-anos. Acesso em 27 mai. 2024.
Agência Nacional de Transportes Aquaviários. Estudo apresenta riscos climáticos e medidas de adaptação para os portos de Aratu, Rio Grande e Santos. 2022. Disponível em: https://www.gov.br/antaq/pt-br/noticias/2022/estudo-apresenta-riscos-climaticos-e-medidas-de-adaptacao-para-os-portos-de-aratu-rio-grande-e-santos. Acesso em 27 mai. 2024.
Publicado em: 05/06/2024
Autoria: Victor Pires Gonçalves
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