A ausência e a falta de padronização das informações financeiras nos relatórios de sustentabilidade produzidos por milhares de organizações em todo o mundo estão com os dias contados. Até o final do segundo trimestre de 2023, o Conselho Internacional de Padrões de Sustentabilidade (ISSB, na sigla em inglês) deve publicar a nova regulamentação que visa orientar como divulgar os dados contábeis das empresas ao lado dos seus resultados de ESG.
No Brasil, o estudo, o preparo e a emissão dos novos documentos técnicos serão de responsabilidade do Comitê Brasileiro de Pronunciamentos de Sustentabilidade (CBPS), instituído pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC).
A partir de 2025, as organizações que seguem as Normas Internacionais de Relatórios Financeiros e os Requisitos Gerais para a Divulgação de Informações Financeiras Relacionadas à Sustentabilidade deverão apresentar seus relatórios de acordo com os novos padrões estabelecidos pelo ISSB.
Qual é a importância do ISSB para os investidores?
A importância do ISSB reside, principalmente, em sua capacidade de estabelecer informações financeiras associadas à sustentabilidade de forma clara, consistente, confiável e comparável.
No Brasil, existe uma grande lacuna nesse sentido. Para se ter uma ideia, de acordo com o Relatório de Sustentabilidade Empresarial publicado em 2022, apenas 38% das empresas listadas na B3, a bolsa de valores brasileira, relatam suas emissões de gases de efeito estufa.
Vale lembrar que empresas que adotam uma gestão responsável dos recursos ambientais, uma governança corporativa sólida e boas práticas sociais são mais atrativas para os investidores, pois esses atributos aumentam a resiliência e o sucesso dos negócios no longo prazo.
Elas também são mais propensas a estabelecer relacionamentos positivos com seus stakeholders, incluindo funcionários, clientes, fornecedores e comunidades locais, o que ajuda a criar uma vantagem competitiva no mercado. Além disso, empresas comprometidas com boas práticas de ESG diminuem riscos legais, ocorrências de multas e danos à reputação.
Ao promover mais transparência na prestação de contas, as novas normas do ISSB devem incentivar as empresas a fortalecerem seus investimentos em ações efetivas de sustentabilidade ambiental, social e de governança e, consequentemente, acelerar o cumprimento das metas dos ODSs da ONU.
Origem do ISSB
O Conselho Internacional de Padrões de Sustentabilidade (ISSB) foi criado em novembro de 2021, durante a COP26, em Glasgow, para elaborar uma linha de base abrangente e qualificada de padrões de divulgação de relatórios de sustentabilidade, de forma a atender às necessidades de informações dos investidores. A iniciativa é da Fundação IFRS (sigla em inglês para International Financial Reporting Standards), responsável pela padronização de divulgação de informações contábeis.
O objetivo da Fundação IFRS é promover transparência, comparabilidade e confiabilidade das informações financeiras das empresas em nível global. As normas internacionais de relato financeiro fornecem diretrizes detalhadas sobre como reconhecer, mensurar, apresentar e divulgar vários elementos das demonstrações contábeis, como ativos, passivos, patrimônio líquido, receitas, despesas e fluxos de caixa.
Ao adotar as IFRS, as empresas são capazes de fornecer informações financeiras consistentes e compreensíveis para investidores, analistas, credores e outras partes interessadas em diferentes países. Isso facilita a tomada de decisões econômicas e a comparação de desempenho entre empresas em diferentes jurisdições.
Com o objetivo de consolidar os distintos padrões e estruturas regulatórias dos relatórios de sustentabilidade pré-existentes, a Fundação IFRS contou com a fusão de duas importantes organizações: o Climate Disclosure Standards Board (CDSB), especializado em informações sobre ações de mitigação das mudanças climáticas para investidores e mercados financeiros, e a Value Reporting Foundation (VRF), criada para ajudar empresas e investidores a desenvolver uma compreensão compartilhada do valor da empresa.
Alinhamento do ISSB com o GRI
Em 2022, o ISSB se alinhou ao GRI (Global Reporting Initiative), que oferece a estrutura globalmente reconhecida para a divulgação de informações ambientais, sociais e de governança (ESG) por parte das organizações. A união das organizações foi mais um importante passo rumo à consolidação dos padrões internacionais pré-existentes.
Segundo Emmanuel Faber, presidente do ISSB, “O trabalho em parceria tem o propósito de dar clareza ao mercado sobre como os dois padrões podem interagir para fornecer um conjunto abrangente e contínuo de normas de
relatórios que atendam às necessidades de partes interessadas mais amplas, ao mesmo tempo em que simplificam o processo para as empresas”.
A interconexão dos pilares sustentabilidade e finanças para a consolidação de uma regulamentação única e integrada também foi exaltada pelo CEO do GRI, Eelco van der Enden: “ A colaboração entre o GRI e o ISSB é significativa porque reflete que ambas as organizações valorizam a importância de trabalhar juntas para alinhar nossos padrões. Acredito que isso não apenas dará às empresas maior clareza sobre as expectativas de relatórios, mas também poderá melhorar a qualidade e a relevância dos dados”, declarou.
Grupo de Implementação de Transição em IFRS S1 e IFRS S2
Até 30 de junho de 2023, o ISSB está recebendo candidaturas para adesão ao Grupo de Implementação de Transição no IFRS S1, FRS S1 (Requisitos Gerais para Divulgação de Informações Financeiras Relacionadas à Sustentabilidade) e IFRS S2 (Divulgações Relacionadas ao Clima). Esses são os dois primeiros padrões de divulgação de sustentabilidade desenvolvidos pelo ISSB.
Os candidatos devem ter fluência em inglês e experiência na implementação e no trabalho com outras normas ou estruturas relacionadas à sustentabilidade para usuários de relatórios financeiros de uso geral. Interessados devem enviar currículo e carta de apresentação resumidos para o e-mail ISSB_TIG@ifrs.org.
Mais informações podem ser acessadas aqui.
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Data: 01/06/2023
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